[Entre-atos]
Uma dor desenfreada,latente e inteligível,
se espalha e transborda
meu corpo
Não me dou por mim,
e,
há cinco minutos
as coisas eram outras.
Compassos... contrações.
Rimas, suor, espasmos
e o vento vem soprar
aumentando o contratempo
Sou o que contrai -e expande.
Movimentos bruscos.
Repetidos e insólitos.
Amanhece do outro lado da rua
E a cidade -
Apressada, cinza e crua -
Não me ouve os gritos.
Sufoco o de fora
Impulsionando o de dentro
Pedro, Paula, Maria, José...
Que nome dou agora?
Derramo a última gota do vinho.
Taça
Que estilhaça na mesa
É tambor para ouvidos surdos
Abraço o secreto
Que me beija e adoça a boca.
Litros de tudo
Escorrendo poros afora.
E agora?
Quanto tempo faltaria
Se houvesse hora pra contar?
Me encontro aqui:
Esse ser de fora, outra vez,
Não mais é um.
Só.
Os outros tantos observam.
Cuidam e acalmam
O que canto e ecoa no corredor.
Outono deitando folhas,
iluminando em sépia
o que outrora era seco.
Gentil Senhor da aurora.
Adormeço o corpo
Calo as metades outras
Sorrio ao que ressoa
e saio porta adentro:
Nasce outro eu de mim!
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