sábado, 31 de março de 2012

[Entre-atos]

[Entre-atos]

Uma dor desenfreada,
latente e inteligível,
se espalha e transborda
meu corpo

Não me dou por mim,

e,
há cinco minutos
as coisas eram outras.

Compassos... contrações.

Rimas, suor, espasmos
e o vento vem soprar
aumentando o contratempo

Sou o que contrai -e expande.

Movimentos bruscos.
Repetidos e insólitos.

Amanhece do outro lado da rua

E a cidade -
Apressada, cinza e crua -
Não me ouve os gritos.

Sufoco o de fora

Impulsionando o de dentro
Pedro, Paula, Maria, José...
Que nome dou agora?

Derramo a última gota do vinho.

Taça
Que estilhaça na mesa
É tambor para ouvidos surdos

Abraço o secreto

Que me beija e adoça a boca.
Litros de tudo
Escorrendo poros afora.

E agora?

Quanto tempo faltaria
Se houvesse hora pra contar?

Me encontro aqui:

Esse ser de fora, outra vez,
Não mais é um.
Só.

Os outros tantos observam.

Cuidam e acalmam
O que canto e ecoa no corredor.

Outono deitando folhas,

iluminando em sépia
o que outrora era seco.
Gentil Senhor da aurora.

Adormeço o corpo

Calo as metades outras
Sorrio ao que ressoa
e saio porta adentro:

Nasce outro eu de mim!



[Marcus Vinícius Faro]



segunda-feira, 26 de março de 2012

[Meu-Lírico]

[Meu-Lírico] 


Se eu pudesse te dizer uma palavra, eu diria música. 
Daquelas que surgem de repente. Que não se sabe ao certo de onde vem 
ou quem a escolheu. Aquela música que ninguém pensou, 
que dança no ar e toca e diz exatamente o que se quer dizer.



Se eu pudesse te dizer uma frase, eu diria me encontre no relógio. 

Lembrando de um filme antigo e deixando nascer jeito de atrasar seus ponteiros, 
por desejar que o Tempo pudesse tirar uma folga para tomar um café 
e nos deixar a sós

Andar mais lentamente -- nós e o tempo -- 
por entre o verde das horas.



Se eu pudesse, te diria fique arrisque me abrace. 

E ao passo de abraçar, te acenderia o olhar, te contaria um sonho 
debruçado em teu ombro e te roubaria um beijo 
no meio do caminho 

Manso e leve, 
sem pretensão ou qualquer outra coisa que não pudesse flutuar.

Se eu pudesse, penso com os olhos fechados, 
não te diria nada. 
Nada além do que foi dito,
Porque as palavras cantam cirandas a nossa volta

Sopram os cabelos 
e não é preciso pensar em nada além de estar. 


[Marcus Vinícius Faro]